sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

A Arte de Militar

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Hoje é meu primeiro dia como um blogueiro. Nossa! Às vezes me assusto como ainda sou lento nessa questão de modernização digital. E olha que trabaho quase que 24 horas na frente do meu Laptop. Mas isso não quer dizer nada, né? Se eu contar que só resolvi montar este blog por conta de uma matéria publicada na FOLHATEEN, vocês iriam entrar em choque.
Nesta quarta-feira fui ao cinema, muito bem acompanhado, assistir ao filme "MILK - A voz da igualdade" com o ator Sean Pean, ex Sr. Ciccone, que com este papel, representando o próprio Harvey Milk levou o prêmio de melhor ator do ano.
Pela primeira vez me simpatizei com o ator. Sempre protagonizando Bad Boys e com um antecedente violento que marcou sua vida com o seu casamento com a Madonna, pelos atos brutais como a tratava, nunca havia gostado muito dele. E desta vez, provavelmente por seu papel como um homossexual, não só eu, mas o próprio Sean, se libertou dessa insígnia de mal garoto e conseguiu novos fãs e sem falar no grande prêmio tão esperado em toda sua vida.
Como a vida é engraçada. Foi como se pra ele conseguir o oscar tivesse que superar seus próprios limites e um deles foi dar seu primeiro beijo em um homem. Confesso que nunca achei que ele fosse capaz de chegar a esse ponto. Tanto que, conta a lenda, assim que ele fez sua primeira cena de beijo ligou imediatamente pra Madonna para contar as novas.
Fiquei feliz, Sean Pean também e Madonna muito mais. Mas quando paro pra analisar essa minha felicidade a considero totalmente preconceituosa, assim como era o ator ou como eu achava que ele era. Porque tive que esperar ele ser um gay pra eu gostar dele? É natural essa sensação minha ou não passa de uma atitude ridícula. Ou talvez, essa minha simpatia seja na verdade não pelo ator e sim pelo personagem que ele representou: Harvey Milk?
Dúvidas à parte, quero agora falar um pouco da impressão do filme. Convoco toda a comunidade LGBT a assistí-lo e a tirar suas próprias conclusões. O filme é um tapa na cara de cada um de nós. O que nós, os gays, estamos fazendo para continuar essa jornada começada há 40 anos atrás. Será que estamos realmente ouvindo esse recrutamento para lutarmos pelos nossos direitos, ou continuamos apenas esperando que outros Harveys façam isso por nós. Até onde chega o nosso orgulho gay? Talvez sejamos tão orgulhosos, que continuamos nos escondendo nos armários da vida, da desilusão, do mêdo, da insegurança e principalmente da preguiça e a mostrando apenas nas festividades da Parada e de suas festas, ou até mesmo como disse Nany People: Turismo sexual.
MILK vem para dar uma sacudida em todos. O futuro já está aqui e o que estamos fazendo pelos nossos direitos?
Me lembro ainda de quando militei por quase três anos em Cuiabá na LIVREMENTE, entidade que trabalhava com os Gays daquela cidade. Eram dias de descobrimento e luta por uma causa e por um ideal. Juntamente com o Clóvis, Mauro e Menotti, conseguimos muitas vitórias e uma delas foi a primeira parada gay de Mato Grosso. Só que depois, acabos por desiludir por conta de disputas dentro da própria associação, que na época foi uma total decepção, pois mais uma vez acreditei ser um local livre de tudo isso e que realmente estaríamos todos por um e um por todos. É claro, eu era o Dartanha.
Saudades de voltar a lutar por uma causa a não ser a minha própria. Ok, estou dando um tempo agora pros meus estudos, pois preciso deles até mesmo pra poder sobreviver, pois só da causa não se vive, a não ser que faça como muitos militantes que conseguem de uma forma ou de outra mamar nas tetas do governo com seus projetos. Quero ser íntegro. Lutar porque amo e não porque quero algo em troca. A única coisa que vou querer em troca são as conquistas pra toda a comunidade. E pra mim, a troca virá automaticamente, que será o crescimento como pessoa e como membro de uma sociedade. Milk tinha essa visão: Amar ao próximo como a si mesmo. Não sei se alguém fez tanto como ele fez.
Pra não ficar o clima muito pesado, quero falar agora um pouco sobre o figurino do filme. O figurino é todo assinado por Danny Glicker, a mesma responsável pelos figurinos do filme Transamérica. É muito interessante ver, que desta vez, quem brilhou aqui foram os homens. Tinha todos os estilos dos anos 70: Black Power, Flower Power, boca de sino, pantalonas, shortinhos de Naylon, regatas, baby looks, coletes, e muito, mas muitos bigodes. O interessante ó ver o quanto isso está contemporâneo. Basta dar um pulo no Glória pra se sentir dentro de uma cena do filme. Adoro! Apesar do bom figurino, ele ficou mais no lado documental, pois seguiu a risca as imagens e referências, pois o filme também é muito documenta. A melhor cena de todas é a que o assitente do Harvey, o Cleve Jones (Emile Hirsch) começa a convocar vários ativistas por todo o país e a tela do cinema vai se multiplicando em quadrados coloridos. Uma festa de cores e inspirações.
Enfim, o filme acabou, fiquei no ponto de ônibus namorando um pouquinho, enquanto ele não passava e aproveitando de um pouco desta liberdade, que se deu início ha quase 40 anos atrás. Salve Milk!